O ladrão de galinha e os ladrões de Brasília
No dia primeiro de agosto
Do ano ainda fluente
Pras bandas do Eldorado
Terra de boa gente
Ocorreu um fato inédito
Que me deixou descontente.
O senhor João da Silva
Mais conhecido por “Rolinha”
Aproveitou a madrugada
Pra sair de vez da linha
Substraindo, na empreitada,
Duas bonitas galinhas.
Há um ano desempregado
Num ato de desespero
Foi na casa do vizinho
E invadiu seu galinheiro
Há três dias não comia
Pois lhe faltava dinheiro.
Apanhou um saco plástico
Que pelo chão encontrou
E bancando o esperto
Escondeu o que furtou
Deixando o local do crime
Da maneira como entrou.
O seu Manoel da Valmira
Homem de muito tato
Ao notar que havia sido
A vítima do grave ato
Procurou a delegacia
E relatou ligeiro o fato.
Ante a notícia do crime
A polícia, deligente
Tomou as dores do Manoel
E alertou seu contigente
Foi um batalhão inteiro
Pra prender o delinquente.
Foi a Polícia Civil
Guarda Civil e Militar
Atendendo a ordem expressa
Do secretário e do delegado titular
Não se pensava em outra coisa
Senão em o bandido pegar.
Depois de algum trabalho
O larápio foi encontrado
Não esboçou reação
Ficou num canto sentado
Sendo conduzido então
À frente do delegado.
Perguntado pelo crime
Que havia cometido
Respondeu João da Silva
Com seu jeito extrovertido:
“Desde quando isso é crime
Neste Brasil de bandido?!”
Ante tão forte argumento
Calou-se o doutor delegado
Mas por dever do seu cargo
O flagrante foi lavrado
E recolhido à cadeia
Aquele pobre diabo.
Mesmo assim, ficou pensando:
“O meliante tem razão
Com tanto bandido solto
Carregando armas não mão
Eu solto ou deixo preso
Esse aprendiz de ladrão?”
O Brasil está em pedaços
Segue na sua humilhação
Os políticos de Brasília
Vivem metendo a mão
No bolso dos que não têm
Nem o dinheiro para o pão.
O povo já não aguenta mais
Ser roubado, esfoleado e iludido
Por políticos corruptos
Que não passam de bandidos
Gente da pior espécie
Que não devia ter nascido.
Soltá-lo era uma decisão
Que a lei brasileira refuta
Sabe-se que a lei existe
Só pra pobre, preto e puta
Por isso, peço a Deus do Céu
Que norteie minha conduta.
É muito injusta, a lição
Que é pai desta alterosa
Deve ficar na prisão
Quem furtou duas penosas?
Se lá não se encontram presos
Pessoas bem mais cabilosas.
Afinal, não é assim tão grave
Também não será o primeiro
Não sendo deputado e senador
Não participou de entrevero
Muito menos é comparsa
De político embusteiro.
“Desta forma, eu decido
A esse homem da simplória
Com base no CPP
Dou-lhe liberdade provisória
Para que volte a sua casa
E refaça sua história.”
“Se virar homem honesto
E sair dessa triste trilha
Que permaneça em Palhoça
Ao lado de sua família
Mas se decidir o contrário
Deve eleger-se e rumar lá pra Brasília!”
Publicado em 14/08/2025 - por Beltrano