Palhoça: 131 anos de glórias e devaneios - Parte II
Os políticos da Vila de Palhoça
Com o governo fizeram reunião
Na frente do Antônio Moreira César
Não tiveram nenhuma compaixão.
“De São José, queremos nos separar
Vamos procurar quem saiba administrar
Por favor, por favor, queremos a emancipação.”
Como o governador estava puto
O pedido dos palhocenses, então, endossa
Ficamos com o maior território
Do município de São José, fizemos troça
Eu assistia, mas não pude ficar calado
Em 24 de abril, ficava então oficializado
O novo município de Palhoça.
Eu me meti e tentei impedir
Do Moreira César enchi o saco:
“Não sei não, isso é problema
Ainda não passamos de um barraco
Com esse território todo
Podemos sufocar no lodo
Será muita estrada para tapar buraco”.
Moreira não quis nem saber
Fez sem pensar e na cara dura
Emancipou, não tinha mais jeito
Começava assim nossa amargura
Os políticos ligeiros correram
Sem mais delongas se estabeleceram
Pra tomar conta da Prefeitura.
Dias depois, presenciei a posse
Sabendo do resultado, fiquei calado
Todo mundo foi puxar o saco
Do coronel Bernardino Machado
Que puxou o resto da história
Ficando marcado na memória
Como primeiro superintendente empossado.
Para tentar evitar a tragédia
No Bernardino botei minha fé
Marquei audiência com ele
E também peguei no seu pé:
“Desculpe, meu velho, se lamento
Não faça isso, ainda dá tempo
Será que é negócio nos emancipar de São José?”
Bernardino me recebeu desconfiado
E me achando um tanto estranho.
Eu lhe falei que vim do futuro
E que Palhoça só nos dias de hoje teria ganho
Ao me colocar contra a emancipação
Quase fui retirado aos empurrões
Por muito pouco uma coça não apanho.
Teimei e, angustiado, disse pra ele:
“Vão abrir um monte de loteamento
Prédios no mangue serão erguidos
Plantarão muito jardim de cimento
Impeça, por favor, essa malvadeza
Haverá muita devastação da natureza
Isso sem falar nos alagamentos”.
“Anunciarão muitos jardins
Mas irão inverter os valores
Eucaliptos, Laranjeiras, Aquárius, Eldorado
Plantarão gente e não flores
Sem preocupação com o futuro
Entre pobres e ricos erguerão um muro
Meu medo é que decisões fiquem nos bastidores.”
“O manguezal será invadido
Um santuário a se acabar
Uma cerca morta de prédios
Não vai deixá-lo respirar
Com rios e córregos aterrados
A natureza será colocada de lado
As águas não chegarão ao mar.”
Para o senhor ter uma ideia
E por isso sou tão elétrico
Na Câmara de Vereadores
Legislar não será enciclopédico
A classe política virará grude
E em matéria de saúde
Terá muito posto, mas pouco médico!
Nesse momento da audiência
O coronel me disse, indignado:
“Tenho mais o que fazer
Do que ouvir esse aloprado
Por uma questão de justiça
Chame o chefe de polícia
Quero esse homem trancafiado”.
Eu disse: “Dê-me uma chance
Eu sei, porque vim do futuro
Se estou aqui neste momento
É porque estamos em apuros
A história vai provar um dia
Daqui não dá para ouvir a gritaria
Deixar São José será prematuro”.
“Um dos problemas que teremos
Será uma BR cheia de gargalos
Que vai formar filas e tragédias
Não haverá políticos pra dar nos calos
Construir um túnel será uma novela
É o que 2025 nos revela
Lá no Morro dos Cavalos.”
Chegou então o chefe de polícia
Que me olhou, dizendo, de cara feia:
“Só hoje já é o terceiro
Que prendo com a cara cheia”.
E me puxando forte pelo braço
Deu-me um grande cagaço
Tive que fugir antes de ir pra cadeia.
Acordei daquele sonho estranho
Levantei da cama para do passado escapar
Tinha que voltar pra Palhoça
Para seu aniversário comemorar
Parece-me um tanto insano
Ficar longe de Palhoça tantos anos
Pois é bem aqui que quero ficar.
Sabia que no século vinte e um
Estaríamos na era digital
Ninguém é capaz de dar um elogio
De todos, só se quer falar mal
Mas ainda tenho esperança
Um dia teremos pujança
Hoje estamos construindo até hospital!
Deste estranho sonho acordei
Levantei-me pra escrever este Beltrano
Meu amor por Palhoça é grande
Vivo num município soberano
De Palhoça, quero viver o presente
E não poderia jamais estar ausente
Do show de Munhoz & Mariano!
Publicado em 25/04/2025 - por Beltrano