O extraordinário nas pequenas conchas
O berbigão é pequeno, mas sua história é imensa. Este molusco, que por décadas esteve presente na mesa, na cultura e na economia de Palhoça, hoje se tornou símbolo de uma ausência e de um alerta para um grave problema. Sua escassez revela não apenas uma mudança de hábitos, mas sobretudo uma ferida aberta em nossa relação com o meio ambiente. A reportagem especial assinada pelo repórter Willian Schütz nesta edição resgata essas memórias e, ao mesmo tempo, nos confronta com um alerta: a degradação ambiental e a falta de saneamento básico estão entrelaçadas ao desaparecimento de um alimento que já foi abundante e democrático.
Nossos ancestrais tinham por hábito observar os sinais da natureza para prever o futuro. O vento, a maré, a lua e até o voo dos pássaros eram interpretados como mensagens. De certo modo, o berbigão também é um sinal: sua escassez fala de um tempo em que nos desconectamos das pequenas coisas e deixamos de ouvir os avisos mais sutis. A poluição das águas e a urbanização desordenada gritam através do silêncio das praias vazias, onde antes havia vida, fartura e memória coletiva.
O clamor deste editorial é para que possamos reaprender a enxergar o extraordinário nas pequenas conchas. O berbigão guarda a energia de gerações passadas, que dele tiraram sustento e saúde, e pode ser, no futuro, um símbolo de reconexão se soubermos agir agora. Está em nossas mãos decidir o que encontraremos, logo ali à frente: uma casca vazia ou uma reluzente pérola de vida.
Publicado em 09/10/2025 - por Palhocense