
Um caldeirão de tensões, prestes a transbordar
A discussão sobre o Morro dos Cavalos, um tema essencialmente microrregional, ganhou projeção mundial nesta semana, ao ser levada para debate na COP30, em Belém (PA). A cena simboliza como tensões locais podem ser absorvidas por agendas globais. No entanto, como indicou a enquete da semana passada do Palhocense, paira sobre o evento uma descrença coletiva: a sensação de que a COP se tornou uma vitrine ideológica, repleta de discursos que pouco se convertem em ações práticas, especialmente quando observamos a inércia diante dos problemas que assolam o nosso próprio quintal.
O contraste entre a urgência climática reconhecida cientificamente — inquestionável diante das alterações que o planeta enfrenta — e a incapacidade de resolvermos questões básicas dentro da nossa comunidade é gritante. No caso do Morro dos Cavalos, a comunidade local relata não ter tido vez nem voz no processo decisório, percebendo medidas impostas de cima para baixo, vindas de Brasília, sem uma interlocução efetiva. O resultado é um ambiente tenso, permeado por desconfiança e polarização. E seria ingenuidade acreditar que moradores estabelecidos há décadas nessas áreas aceitariam, sem resistência, abandonar seus lares ou abrir mão de suas narrativas sobre o território.
Mais do que ambiental, o impacto é social — e pode se tornar explosivo. Palhoça caminha para um acúmulo de tensões que, se não forem tratadas com responsabilidade, diálogo e transparência, tendem a ferver como um grande caldeirão prestes a transbordar. Assim como as temperaturas do planeta, esse caldeirão local aquece a cada dia, alimentado pela falta de consenso, pela ausência de mediação real e pela negligência das autoridades em construir pontes entre realidades que coexistem, mas não se conversam. E, no ritmo em que vamos, corremos o risco de repetir, em escala municipal, o mesmo drama que a COP30 expõe ao mundo: muito calor, muita fala e pouca ação para realmente esfriar o clima.
Publicado em 20/11/2025 - por Palhocense