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Encontos & Desencrônicas - Edição 1.009

 

A Casa Verde da democracia brasileira

 

Por: Daniel Camargo Thomaz*

Final de avaliações na escola: tempo em que os professores trocam o descanso por montanhas de provas e trabalhos. No meu caso, significa decifrar caligrafias que mais parecem hieróglifos encontrados em tumbas egípcias, tentando extrair alguma coesão de argumentos tão confusos que fariam até Sócrates pedir uma segunda via da redação.
Vejam bem, não é inveja dos colegas que aplicam múltipla escolha, onde o drama se resume a um simples “x” na alternativa correta. É só a resignação de quem escolheu a trilha mais pedregosa.
Entro na sala dos professores. O ambiente é sempre o mesmo: a máquina de café tossindo como um fumante de longa data, cadeiras rangendo com queixas artríticas e aquele cheiro peculiar — uma mistura de perfume, livros e o eterno biscoito esquecido sobre a mesa. Mas algo estava diferente. O ar parecia denso, pesado, como se uma tempestade se armava: 

todos falavam sobre o julgamento de Jair Bolsonaro.

Suspirei. Se já não bastassem as teses mirabolantes dos alunos, agora teria de ouvir as defecações verbais de colegas tão queridos quanto barulhentos? Pois bem, preparem-se: o improvável aconteceu.
A professora de História — militante de carteirinha e dona de uma convicção que não caberia em assembleia sindical — ergueu a voz com pompa de tribuna parlamentar:
— Vejam bem, alguém tem de expor as atrocidades que o senhor Alexandre de Moraes e seus pares estão cometendo em defesa de uma suposta democracia!
A sala parou. Um colega deixou escapar um gole de café no colo, outro se engasgou com a bolacha Maria. Até a máquina de café emitiu um estalo estranho, como se tivesse ouvido demais.
Um professor, geralmente tímido, mas que compartilha da mesma cartilha política, arriscou, quase pedindo licença:
— Tá… mas o cara é um golpista e genocida, precisamos fazer algo em relação a isso!
Leitores, pasmem! Ela ajeitou os cabelos, respirou fundo e disparou:
— Esperem! Todos sabem que sou de esquerda, mas o que o STF tem feito não é democrático. O juiz acusa, investiga e julga. Ou pior: ele é também a própria vítima! Vocês não percebem que isso destrói a harmonia entre os poderes?
Foi como se tivesse lançado uma bomba de fumaça no ambiente. O tímido encolheu-se na cadeira, outra tenta responder com argumentações puramente militantes e ela encerra o assunto:
— A História mostra que abusos de autoridade nunca terminam bem!
Silêncio. Um silêncio tão profundo que se uma caneta caísse, pareceria granada. O assunto morreu ali mesmo, sepultado ao lado das tantas conversas que ninguém ousa retomar.
Agradeci em silêncio. Recolhi-me à minha poltrona, com uma xícara de café em mãos, e entre uma mordida na barra de chocolate e um gole amargo, fiquei a pensar.
A Primeira Turma do STF é composta por Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes (juiz e vítima ao mesmo tempo), Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino. Entre inimigos políticos declarados e advogados de presidentes em exercício, a balança da imparcialidade parece pender de forma curiosa. Pergunto-me: estamos diante do julgamento de um criminoso antidemocrático ou vivendo um regime que não admite oposição?
Lembro que Fux votou contra a Lei da Ficha Limpa, Dino é inimigo político de Bolsonaro e Zanin foi advogado de Lula nos processos mais espinhosos de corrupção que o país já vivenciou.
E, sinceramente, tudo me soa como a ironia machadiana em O Alienista: jogos de poder e vaidade disfarçados de ciência, ou melhor, de justiça. Pessoas reduzidas a números, decisões sustentadas por vereadores corruptos e quem ousa discordar será internado na “Casa Verde”, pois certamente quem discorda da ordem merece tratamento ou punição.
A diferença é que, hoje, a “Casa Verde” não tem muros nem portões. É invisível, silenciosa e paira sobre todos nós. Porque, no fim, quem sempre paga a conta não são os doutores togados ou políticos milionários, mas o povo — esse que, para os poderosos em disputa pelo trono, não passa de estatística.


* Professor e escritor, membro da Academia de Letras de Palhoça, atua nas áreas de Língua Portuguesa, Literatura e História. Autor de livros como "Fábulas para o século XXI", "La Befana – um conto de Natal", "Caco em busca da felicidade", "Não se Iluda" e "Uma escolha, um destino"



Publicado em 04/09/2025 - por Palhocense

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