Empatia de fachada: a paz que não ensinam
Por: Daniel Camargo Thomaz*
Estou impressionado com os acontecimentos da atualidade, mas parece que grande parte das pessoas considera tais atos justificáveis e não consegue refletir sobre a importância da verdadeira empatia. Por isso, reforço o valor dos livros antigos. Veja bem, não me refiro à religião, mas à sabedoria de escritores cujos textos permanecem relevantes nos dias atuais.
Explicarei essa questão enquanto narro o que presenciei esta semana — e, sinceramente, fiquei triste e constrangido.
Observando conversas de profissionais da educação — afinal, é o ambiente que frequento — ouvi palavras e expressões que preferia não ter ouvidos para escutar. No entanto, foi inevitável...
Imagino que todos os leitores saibam do assassinato de Charlie Kirk. Mas este episódio é apenas mais um diante da intolerância que muitos justificam, acusando as vítimas de intolerantes, racistas, fascistas ou de burgueses opressores. Peço desculpas, mas este texto não terá nada de cômico, pois a reflexão precisa ser mais direta.
Bom, retornando à narrativa...
Estávamos na sala dos professores, um espaço que deveria ser de troca intelectual e respeito mútuo. As paredes, cobertas por cartazes de campanhas educativas, pareciam não impedir que o clima se tornasse carregado de sarcasmo e desprezo. O tom das vozes era casual, quase alegre, como quem comenta uma notícia banal.
— Vocês viram o que aconteceu com aquele extremista americano? — disse uma professora, com um sorriso enviesado.
— Quem? — respondeu outra, franzindo a testa com falsa inocência. — O Charlie Kirk?
— Sim, esse mesmo. Mas também, o cara dissemina ódio em suas palavras e é favorável ao porte de armas. Pediu, levou. Agora talvez reflita, lá do inferno, sobre a importância de eliminarmos o porte de armas.
Depois dessa frase — que expressa muito amor — vieram algumas risadas irônicas. Mas calma, piora. Outro professor, encostado na mesa com ar de superioridade, completou:
— Bom, aqui se faz, aqui se paga!
Fiquei atônito, sem palavras, sem reação. Sinceramente, lágrimas escorregaram pelo meu rosto. Saí da sala e fui até uma sala de aula vazia, para pensar. Lembrei que desde 2022 ocorreram tais atos: Donald Trump, atingido de raspão na orelha por um atirador; Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro do Japão, baleado e morto; Alejo Vidal-Quadras, fundador do partido Vox, levou um tiro no rosto; Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, baleado; Miguel Uribe Turbay, senador conservador e pré-candidato à presidência na Colômbia, baleado; Andriy Parubiy, ex-presidente do Parlamento ucraniano e fundador de um partido de direita, morto a tiros.
Mas podemos lembrar também da festa que muitos “intelectuais” fizeram quando Olavo de Carvalho faleceu, ou quando militantes do amor e da empatia afirmaram nas redes sociais que a filha de Roberto Justus deveria ser “guilhotinada” por andar com uma bolsa cara. Alguns ainda dizem, sem medo de serem felizes, que o próximo é Nikolas Ferreira, um jovem político conservador.
Penso sobre esses acontecimentos e procuro maneiras de reverter essa “pandemia” de ódio e rancor que se espalha contra adversários que cometeram o crime de pensar diferente, ter dinheiro, ou ser cristãos que desejam ter uma família em paz e sem ideologias. Mas haverá aqueles que dirão:
— Tu não enxergas a verdade, professorzinho... não sabes que muitas pessoas são exploradas, oprimidas e têm muitas dificuldades na vida?
Sim, enxergo. Mas odiar quem tem mais ou pensa diferente é a solução? Pensem comigo e vamos analisar as palavras de um texto antigo:
Imagino o rancor de muitos ao lerem tais linhas, mas a reflexão é importante. Uma pessoa que dissemina ódio tem em seus seguidores o ódio, correto? Então, qual foi a reação dos seguidores de Charlie Kirk à sua morte?
Eu respondo: oração, rodas de oração, novenas e homenagens. Não houve conflito, nem discursos sobre vingança. Para quem interpreta bem um texto antigo que traz a sabedoria da humanidade, é simples: o discurso desse jovem nunca foi de ódio. Simples.
Porém, já preparo a paciência para os comentários “de amor” dos tolerantes e empáticos.
Até quando a humanidade odiará e resolverá seus conflitos internos com violência? A pobreza e as dificuldades financeiras são mais consequência de ingerência governamental e corrupção do que qualquer outra coisa. Mas quando é um político “do amor” que é corrupto, todos consideram normal, pois suas políticas públicas são para os desfavorecidos.
Lembro das críticas encontradas em As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, onde a escolha de líderes por habilidades absurdas ironiza os critérios superficiais usados em cargos públicos — ou o motivo de uma guerra por discordarem sobre qual ponta do ovo deve ser quebrada.
* Professor e escritor, membro da Academia de Letras de Palhoça, atua nas áreas de Língua Portuguesa, Literatura e História. Autor de livros como "Fábulas para o século XXI", "La Befana – um conto de Natal", "Caco em busca da felicidade", "Não se Iluda" e "Uma escolha, um destino"
Publicado em 18/09/2025 - por Palhocense