Por: Willian Schütz
Em 1826, o francês Joseph Niépce fez um experimento que resultou na primeira fotografia da história. Ele nem imaginava que a invenção seria essencial para o jornalismo. Ao longo dos anos, a fotografia se tornou essencial para contar histórias e registrar momentos. Na trajetória do jornal Palavra Palhocense, não é diferente. Prestes a atingir a marca das 1.000 edições, a reportagem resgatou memórias fotográficas que marcaram as últimas décadas do jornalismo local.
A primeira edição do Palavra Palhocense foi em 2005. Na época, o veículo surgiu como uma reformulação inspirada no antigo “O Palhocense”, fundado por João José da Silva, na década de 1980. Toda essa história traz consigo muitas mudanças tecnológicas e, ao passo que a fotografia evoluiu, muitas reportagens marcantes também foram surgindo.
Segundo o diretor e editor-chefe do jornal, Alexandre Bonfim, a fotografia é um dos elementos marcantes da história do Palavra Palhocense. “Ela mostra o quanto fomos impactados pelas mudanças tecnológicas e o quanto também conseguimos nos apropriar delas. Lá no tempo de ‘O Palhocense’, o meu pai, João José da Silva, comentava como era trabalhoso: fazer a foto, levar até Florianópolis, esperar a revelação… Muitas vezes, o resultado não era o esperado, e não havia muito o que fazer”, relembra.
Com o tempo, a tecnologia facilitou o processo. “Já no início dos anos 2000, através do Foto Palhoça, com os filhos do seu Gedalvo Passos, conseguimos fazer a revelação aqui mesmo em Palhoça, em uma hora. Isso foi uma evolução incrível para o nosso processo. E, claro, depois veio o avanço da fotografia digital. Já no início dessa nova fase do jornal, como Palavra Palhocense, já usávamos máquina digital, o que dava mais mobilidade e dinamismo ao nosso jornalismo”, destaca o editor-chefe.
Leitores fieis do Palhocense há mais tempo com certeza já devem ter se deparado com as fotos captadas por Marcelo Bittencourt, que conduziu o olhar por lentes que registraram inúmeras matérias.
E se o famoso fotógrafo Henri Cartier-Bresson define como “instante decisivo” o momento certo para aplicar o “clique”, Marcelo define o trabalho no fotojornalismo como um exercício constante de prática e olhar aguçado.
Para além da prática, ele teve grandes influências. “Minha ‘faculdade de jornalismo’ foi trabalhar seis anos em laboratório de fotografia no jornal ‘Diário Catarinense’ e na ‘Realcolor’. Minha inspiração, posso dizer, foi revelar e ampliar fotos de grandes fotógrafos da cidade e do estado. Analisar a ótica desses fotógrafos me ajudou a criar um olhar ‘calejado’ para a fotografia. É como aprender um idioma novo: falar através da luz. Uma imagem fala mais do que mil palavras”, relembra, citando um dos bordões mais conhecidos no mundo da fotografia.
O contato de Marcelo com o Palavra Palhocense veio através de Alexandre Bonfim. “Eu o conhecia de outras pautas. Eu havia saído do jornal ‘Notícias do Dia’ e recebi o convite para trabalhar no Palhocense, o que foi um desafio novo e um privilégio. Tive a honra de colocar, em seis anos de trabalho para o jornal, algumas capas importantes, mostrando a cultura e a vida do morador da Palhoça”, recorda.
Entre os registros mais marcantes, Marcelo destaca alguns momentos que o emocionaram. “Um verdadeiro marco foi ter fotografado a vietnamita Phan Thi Kim Phúc pelo jornal Palhocense. Essa foi uma das fotos que me marcou. Ela foi uma sobrevivente vietnamita que foi atingida por uma bomba de napalm durante a Guerra do Vietnã. Quando era menina, com apenas nove anos, ela sofreu queimaduras em 65% do corpo”, menciona.
“Outra fotografia que fiz, também pelo Palhocense, foi a neve no Morro do Cambirela e na região da Palhoça. Uma outra foi a cobertura do ‘apagão’ em Florianópolis. Ver a Capital às escuras e andar pelas galerias da ponte Colombo Salles, e ver a cidade à luz de velas, foi algo que me marcou muito. Houve ainda a cobertura da reunião do Mercosul, que reuniu, na Capital, 12 presidentes — foi algo muito marcante”, finaliza Marcelo, que também diz acreditar que o “fotojornalismo é essencial para trazer informação na forma de imagem”.
Já para o fotógrafo Norberto Machado, a fotografia retrata emoções, como alegrias, tristezas e frustrações. “A foto deve falar junto com o texto, seja ele qual for. Cada foto deve ser tirada de uma tal forma que as pessoas possam interpretar aquele momento, fazer como se eles estivessem ali no lugar do ocorrido”, argumenta o profissional, que também atuou no veículo. “A foto que mais me chocou foi a de um acidente no Morro dos Cavalos, alguns anos atrás, onde morreram cinco pessoas”, relembra.
Em tempos recentes
Mesmo na era digital, o fotojornalismo continua importante. E quem também deixou seu olhar impresso nas páginas do periódico foi Flávio Lengruber, que acompanhou um dos períodos mais dramáticos dos últimos anos: a pandemia de Covid-19.
“Um dos momentos mais marcantes da minha trajetória foi quando registrei a aplicação da primeira dose da vacina contra a Covid-19 em uma cidadã palhocense, a líder indígena Kerexu Yxapyry. Foi muito emocionante. Estávamos todos mergulhados numa escuridão de incertezas, com doenças, mortes, e poder fazer parte dessa frente de batalha, registrando um momento de esperança, foi incrível! Isso só foi possível porque o jornal confiou em mim para esse trabalho. Foi, sem dúvida, um marco na minha carreira junto ao Palhocense”, relembra.
Flávio também era apelidado pelos colegas como “Aventureiro”, pois estava sempre se desafiando para fotografar em terrenos dificultosos, como em cenários de enchentes que atingiram a cidade repetidas vezes. Ele hoje está afastado dos cliques e vive uma batalha contra o câncer.
Outro destaque é o trabalho de Douglas Silveira, que atuou na cobertura das Eleições Presidenciais de 2022. Na época, ele registrou momentos importantes do processo democrático, como a chegada de votos para apuração do resultado.
Memória fotográfica
A memória fotográfica também é destaque no Palavra Palhocense. Uma das iniciativas para manter acessa essa luz sob os antigos registros da cidade é o projeto “Memória Palhocense”, que resgata fotos antigas do maior acervo do município.
Parte disso se deve a uma herança histórica: em 2016, o jornal foi procurado pelo fotógrafo Gedalvo Passos, para receber a tutela de um arquivo fotográfico com mais de 1 milhão de negativos, resultado de décadas de trabalho da família Passos no Foto Palhoça. O material foi catalogado e arquivado em 59 volumes de negativos para digitalização. Esse processo segue para preservar a memória da cultura, da cidade e do jornalismo.
11/04/2025
20/03/2025