Por: Sofia Mayer*
Sem receber visitas há mais de sete meses, idosos da Casa Santa Maria dos Anjos, no Caminho Novo, têm vivido uma rotina diferente durante a pandemia. Em um cotidiano de “confinamento”, como eles mesmos descrevem, os 20 residentes, que precisam de cuidado integral, se viram obrigados a estreitar os laços entre os próprios colegas para encarar a falta do contato externo. Especialistas afirmam que o cenário pode intensificar a sensação de ansiedade dos internos.
Antes da pandemia, era frequente a relação presencial dos idosos com a família e a comunidade. “Eles sentem falta do abraço, dos cafés, do carinho, aguardavam ansiosos principalmente os finais de semana”, contam os funcionários da instituição. Mesmo angustiados pelas incertezas geradas pela crise sanitária, em comum eles têm a compreensão de que o cenário é grave, e deixam, inclusive, recados à população externa.
É o caso da dona Gessi Terezinha Wobido, de 77 anos, que não vê a hora de reencontrar a família. “Se o pessoal respeitasse as regras que são ditadas, poderia, quem sabe já ter sanado o problema. Se o pessoal obedecesse às ordens e usasse máscara, lavasse sempre as mãos, não fizesse junção de pessoal…”, adverte a moradora. As entrevistas foram feitas com o auxílio de funcionários da casa, via telefone.
A sensação, para ela, é de que foram esquecidos pela sociedade. “A gente sabe que eles não são culpados. Se vierem, eles podem transmitir a doença do vírus”, comenta. A coordenadora da casa, Rosália Vieira da Rosa, afirma que a instituição está desde março seguindo as orientações da Vigilância Sanitária e que, até agora, não houve casos de Covid-19 no asilo.
Para Lédio Araújo, de 69 anos, a solução é aceitar que o período é atípico para todos, e buscar se fortalecer com as ferramentas e os abraços disponíveis. “Tem que ser amigo. Tem que ficar concentrado com os amigos que a gente tem aqui na casa. Fazer de conta que é parente, que é da casa, que somos irmãos”, afirma. Por conta da idade e quantidade de moradores, ele acredita que se recolher seja, de fato, a melhor decisão possível.
Acostumado a ver as reportagens sobre a pandemia no telejornal, Luiz Antônio, 68, fica triste com o descaso de boa parte da população no tratamento da Covid-19. Sentindo falta da família, ele tem consciência de que não haverá permissão se os munícipes não passarem a encarar a situação com mais seriedade. “Quem está sendo prejudicado somos nós. A gente se cuida e o quem ‘paga o pato’ somos nós”, desabafa.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde da tarde desta quinta-feira (22), há 887 casos monitorados de Covid-19 em Palhoça e 198 munícipes aguardando resultado de exames. Ao todo, 60 pessoas já morreram pela doença aqui na cidade.
Idosos têm sentido mais
A pandemia causou mudanças, em diferentes escalas, em toda a sociedade. Contudo, pessoas que contemplam o “grupo de risco” da doença, como os idosos, precisaram seguir firmemente a ordem de isolamento social.
A psicóloga Amanda Cunha, de Palhoça, explica que o subgrupo de idosos que vivem em casas de repouso ou asilo estão sentindo uma “contrabalança” em relação aos benefícios e riscos do isolamento social. “Muitos desses idosos vêm apresentando pioras em seus quadros clínicos gerais. Eles geralmente já são, de certa forma, isolados pela sociedade. Com esta pandemia, a situação tem piorado, pois a grande maioria dessas instituições precisou suspender visitas, proibir atividades em grupos e seguir várias outras regras que intensificaram o isolamento”, explica.
Ela explica que os efeitos são resultado de uma fusão de situações. “A diminuição de exercícios ao ar livre, juntada à falta de socialização e permanência prolongada do isolamento social vem fazendo com que diversos problemas se desenvolvam nesses idosos”, afirma. Entre os problemas frequentes, segundo ela, há transtornos psicológicos, como perda da memória, depressão, aumento do nível de ansiedade e dificuldade para dormir.
Uma solução para amenizar os efeitos negativos do resguardo social, segundo a psicóloga, seria utilizar meios tecnológicos, que não promovam riscos aos idosos, para manter vínculo com o mundo externo. “Garantir que eles se mantenham positivos e saudáveis até o fim deste período de isolamento”, sintetiza a psicóloga.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim
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