Noite de chuva. Estou em meu escritório, lendo uma obra-prima da Literatura Universal. Os ventos sussurram segredos pelas frestas da janela, e o som da água batendo no vidro parece embalar o silêncio. O café, quente e aromático, repousa ao lado dos papéis espalhados. A luz amarela do abajur cria um casulo de aconchego.
De repente, o transe se rompe: meu celular vibra. Mensagens inflamadas. O som das notificações ecoa como um tambor de guerra dentro do ambiente íntimo. Leio algumas. Reflito. Certas analogias são inevitáveis: acusações que escorrem em paixões humanas.
E me pergunto, estimados leitores: é aceitável essa propaganda de ódio e rancor contra nós, catarinenses? E os ataques incessantes ao “véio da Havan” — seriam crítica política legítima ou pura caça às bruxas?
Enquanto observo a luz refletida na tela, vejo professores — defensores do pluralismo e da democracia — dispararem frases como “aqui se faz, aqui se paga”. Comparam o empresário a figuras conservadoras, como Charles Kirk, assassinado. Ironia sem tamanho: clamam por diálogo, respeito e diversidade, mas combatem com bordoadas verbais seus antagonistas ideológicos.
Reviro cada mensagem com meu hiperfoco literário — esse traço do meu autismo que me conduz a epifanias — e lembro de Tolstói, o barbudão magnífico que abriu o peito ao Sermão da Montanha em O Reino de Deus Está em Vós. Não é título de estante, mas tapa moral nos poderosos. Ele escreveu: “O cristianismo não é uma doutrina, mas uma vida.”
Tolstói foi exilado e excomungado por afirmar que a verdadeira igreja habita no coração, não em templos suntuosos. Os religiosos de sua época, assim como certos democratas de hoje, pregavam diversidade enquanto destilavam rancor contra seus oponentes.
E aqui, em nosso rincão, assisto ao assassinato de reputações. Parece aceitável insultar, agredir, eliminar o adversário. Nada cristão, diria Tolstói. Nada democrático, diriam sociólogos e filósofos.
Se aqueles que empunham a ofensa fossem obrigados a reler o Sermão da Montanha, talvez aprendessem a oferecer a outra face em vez de disparar lâminas verbais, incêndios, facadas e tiros.
Confesso: as discussões virtuais me tiraram o sono. Mas ler Tolstói devolveu-me serenidade. Porque enxergar o outro como irmão exige mais coragem que qualquer batalha retórica.
Por isso, humildemente, peço a quem me lê: reflita antes de seguir líderes que incitam combate e aniquilação. Pois se carregamos o “reino da pluralidade de ideias e da democracia” — ou, para os devotos, o “reino de Deus” — dentro de nós, ele só florescerá onde houver respeito e amor.
Nunca onde houver rancor.
Publicado em 02/10/2025 - por Palhocense