Nos últimos dias, tem repercutido nas redes sociais o caso de uma baleia-franca que permaneceu dias com uma rede pesqueira presa enquanto nadava pela Ponta do Papagaio. A cena foi flagrada na quinta-feira (10) e, rapidamente, autoridades e órgãos especializados começaram a monitorar a situação. Assim seguiu até o fim de semana, quando um surfista realizou uma manobra aquática e desvencilhou a rede. Essa atitude continua repercutindo: com reações diversas nas redes sociais e de especialistas.
Nesta terça-feira (15), o Instituto Australis se manifestou sobre o caso. Segundo a entidade, o primeiro registro do animal nessa situação foi feito na quinta-feira (10) e, no sábado (12), três dias depois, os profissionais responsáveis foram verificar novamente a baleia e constataram que ela já estava sem a rede presa às calosidades.
Segundo o instituto, os profissionais acreditaram inicialmente que a rede tinha se soltado sozinha, como já ocorreu em outros casos. No entanto, ao final do dia, o instituto recebeu um vídeo que mostra o surfista retirando a rede da baleia.
“É importante lembrar que o desencalhe e o desenredamento de baleias seguem regras específicas. A Portaria nº 3 de 2024 estabelece diretrizes para esse tipo de ação. O Instituto Australis integra o protocolo de APA da Baleia-Franca e atua conforme essas diretrizes, sempre priorizando o bem-estar animal e a segurança das pessoas envolvidas”, afirma uma das especialistas através de um vídeo publicado pelo Instituto Australis.
Ainda segundo ela, “não havia indicação técnica para intervenção: a baleia e seu filhote apresentavam comportamento normal e estavam se movimentando bem”, afirma a especialista.
Com mais de 40 anos de atuação, o Instituto Australis já resgatou baleias encalhadas e monitorou diversos casos de emalhe, sendo que a maioria se resolveu naturalmente, com a rede se soltando sozinha. Em 2018, por exemplo, foi necessária uma intervenção, sempre com base em critérios técnicos e muita cautela. Porém, em outros casos, baleias ficaram com redes presas por seis, oito ou até 15 dias, sempre com monitoramento das equipes, até que esses animais conseguiram se desvencilhar sozinhos.
Na região, há atuação do Projeto Franca Austral (ProFranca), realizado pelo Instituto Australis, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa monitora casos como esse.
Surfista atuante no desenredamento
Após três dias de acompanhamento dos órgãos responsáveis, quem tomou a atitude de realizar o desenredamento da rede pesqueira na baleia foi um surfista da região. A informação foi publicada nas redes sociais do fotógrafo Carlos Anselmo, que acompanhou o resgate. O conteúdo viralizou e, nesta quarta-feira (16), o susfista se pronunciou, ao lado de Carlos.
“A baleia estava sendo monitorada por órgãos ambientais, mas já carregava a rede há dias. Por precaução, os técnicos optaram por não intervir diretamente. No entanto, diante do risco à saúde e ao bem-estar do animal, a pessoa se aproximou de forma segura e silenciosa com seu stand-up paddle e, com o auxílio de uma ferramenta preparada, conseguiu retirar a rede em poucos segundos. O animal seguiu livre com seu filhote, sem nenhum ferimento”, destaca a nota.
“Vale lembrar que, embora o manuseio de fauna silvestre normalmente exija autorização dos órgãos competentes, o nosso ordenamento jurídico prevê exceções em casos de emergência e estado de necessidade, como este. Ninguém agiu por curiosidade, vaidade ou lucro”, pontua o comunicado, publicado nas redes sociais do fotógrafo.
Alerta para golpes
Segundo o fotógrafo Carlos Anselmo, não demorou até que informações falsas sobre o caso começassem a circular na internet. Ele diz que pessoas já até fizeram campanhas de financiamento coletivo para supostamente ajudar o surfista — agora chamado por muitos como “herói da baleia”. Porém, as arrecadações são enganosas.
De acordo com o fotógrafo, esses golpistas estariam afirmando que as campanhas seriam para “ajudar” a custear o valor de uma multa. Mas vale salientar que os órgãos competentes não aplicaram nenhuma punição ao entusiasta que ajudou a baleia — até o fechamento desta reportagem.
Em paralelo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) investiga se a intervenção não autorizada causou algum prejuízo à baleia ou ao seu filhote. Até esta quarta-feira (16), o órgão ainda não havia citado a possibilidade de multa ao homem que tirou a rede do animal.
Autoridades acompanharam o caso
O caso da baleia foi noticiado pelo jornal Palavra Palhocense ainda na quinta-feira (10). Naquela data, as autoridades e órgãos competentes também tinham se mobilizado em torno da situação. A Polícia Militar Ambiental (PMA) chegou a sobrevoar a área com drones, a fim de verificar a mobilidade da baleia.
O Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC) também atendeu à ocorrência. “No entanto, foi observado que o artefato não comprometia sua mobilidade — ambos os animais estavam calmos e nadavam normalmente”, aponta o CBMSC.
Já o Ibama acompanhou os fatos desde o primeiro registro do animal.
14/07/2025
11/07/2025