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Especialistas e historiadores relacionam escassez do berbigão com poluição crescente em Palhoça

Município cresceu e esse alimento foi desaparecendo

e567b3ed91ace5710caed59355de2cbc.jpeg Foto: ARQUIVO

Por: Willian Schütz

 

Nas décadas passadas, a abundância do berbigão elencou esse pequeno molusco como um símbolo cultural de Palhoça e região. Tempos atrás, ele estava em todas as partes: na beira dos mares palhocenses, na mesa das famílias e até na cultura, com o Carnaval e os textos literários. Mas o município cresceu e esse alimento foi desaparecendo. Entre os muitos relatos sobre o tema, é unânime: a poluição das águas e o extrativismo foram cruciais para a extinção. Em 2025, diferentes setores estudam esse assunto.  

Um molusco que mede poucos milímetros, mas carrega grande peso histórico e cultural. O berbigão aparece em muitas narrativas que se entrelaçam com a história local. Porém, há mais de uma década, o relato comum é o de escassez. Pesquisas feitas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) dizem que esse alimento está em processo de extinção na região.

Esse cenário é resultado das várias décadas de exploração ambiental. Historicamente, os hábitos alimentares de uma localidade brasileira estão diretamente ligados a fatores como meio-ambiente, cultura, economia e diferentes contextos sociais. É o que apontam as publicações do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde. 

Em Palhoça, não é diferente. Por aqui, o berbigão já foi fonte de renda para muitas famílias. Naquela época, era difícil passar à beira-mar e não se deparar com aquele mundaréu de casquinhas brancas, deixadas pelo molusco. Hoje, algumas dessas praias já nem são mais frequentadas, por conta da poluição. 

É o caso da Ponte do Imaruim. Na década de 1970, a vida do bairro girava em torno da praia. Hoje, há quem nunca tenha visto a orla. Isso se deve a fatores estruturais e urbanísticos, como o crescimento da avenida Aniceto Zacchi, um dos principais eixos comerciais do município. Atrás das construções que se perfilam ao longo dessa via geral, vive a Comunidade da Praia, onde a precarização no saneamento passou a coexistir com o desaparecimento do berbigão. Um fenômeno socioambiental das últimas décadas.  

 

Memórias da orla

Muitos palhocenses que viveram os tempos da fartura com o berbigão já faleceram. Exemplo foi Orival João Silveira de Souza, um dos fundadores do Conselho Comunitário da Ponte do Imaruim, falecido em 2025. Com muitas histórias para contar, ele lançou livros sobre o bairro do coração. Foi assim em “Minhas Memórias: Fatos e Relatos da Ponte do Imaruim e Casqueiro”, lançado em 2013. 

Na obra, Orival traça um paralelo entre os tempos antigos e as mudanças gradativas. Junto de uma fotografia da antiga ponte sobre o Rio Imaruim, ele recorda o cenário de outrora. “A orla marítima era a bela praia de areias claras; não se sabia, naquela época, o que era poluição”, escreve. Ao longo do livro, Orival também destaca como o molusco era figura cativa na região: “A fartura do berbigão era responsável pelo sustento de muitas famílias”. 

Só quem conhece bem a Ponte do Imaruim compreende a fundo as subdivisões do bairro. A antiga orla é chamada por muitos como “Baixada”. Já o caminho que vai da primeira entrada após a ponte até as margens da BR-101 é conhecido como “Casqueiro”. Esse nome também tem relação com os moluscos encontrados por lá. 

Segundo as publicações de Orival, os “casqueiros” eram os homens que trabalhavam separando o berbigão das conchas. Eles tinham papel importante na economia local. “Após separadas, as conchas eram colocadas nas embarcações para vender nas fábricas de cal, chamadas caieiras”, escreve. Com a extinção do berbigão, os casqueiros perderam espaço. 

 

Poluição crescente

As mesmas mudanças culturais e ambientais também ocorreram em São José. Um ponto popular afetado foi a Praia Comprida, a poucos minutos da Ponte do Imaruim. Por ali, os moradores desciam pelo caminho da “Baixada”, para retirar o berbigão nas proximidades. 

“A Praia Comprida, a exemplo de outras nas baías norte e sul entre a Ilha de Santa Catarina e do lado continental, foi totalmente tomada pela poluição de esgotos. Isso ocorreu a partir do final da década de 1970, por falta de saneamento básico, desleixo de administrações públicas e da população”, afirma um texto publicado pelo historiador Gilberto Machado.

O registro do historiador é embasado na tese de especialistas e nos relatos de quem conhece o litoral da Grande Florianópolis. As fontes chegam a um concenso de que o desaparecimento do berbigão está relacionado à poluição das águas costeiras. Outro fator mencionado é a superexploração, ou seja, a extração excessiva e a falta de manejo sustentável.  

 

Riscos no consumo

Diante da poluição, o consumo seguro de moluscos como o berbigão pode ser colocado em cheque. Para além da escassez, há também os riscos de intoxicação. 

Prova disso são os relatórios de monitoramento da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). Diversas vezes entre 2024 e 2025, relatórios da companhia determinaram a proibição temporária da retirada de moluscos bivalves em trechos da região. Os levantamentos apontaram a presença de substâncias que podem causar problemas como náuseas, dores abdominais, vômitos e diarreia.

Essas fiscalizações atuam em Palhoça com as áreas monitoradas para a execução do Programa Moluscos Bivalves Seguros (Molubis).

A companhia também esclarece que esse programa de monitoramento serve para verificar a presença de ficotoxinas, microrganismos contaminantes e metais pesados na carne dos moluscos. As informações são de Pedro Mansur Sesterhenn, que atua no Departamento Estadual de Defesa Sanitária Animal.

 

Na Palhoça de hoje

Diante do crescente desaparecimento do berbigão, a Secretaria Municipal da Pesca informa que Palhoça ainda não conta com um reordenamento aquícola para facilitar o extrativismo. Segundo o secretário Adelino Severiano (Keka), a gestão municipal precisaria de apoio do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) para realizar esse processo.

O secretário também vê como necessárias “medidas mitigadoras da poluição e tomada de ações que vislumbram o resgate da cadeia produtiva”. 

Diante do cenário atual, Keka afirma que o “aspecto cultural é o mais afetado”. “Mas existe um mercado que pode ser fomentado e desenvolvido”, pontua o secretário. Esse olhar ressalta como o berbigão ainda é presente no imaginário popular, através das manifestações culturais. 

 

Na Palhoça de ontem

Palhoça é uma cidade onde a memória pulsa em cada esquina. Dos bares próximos à Praça Sete de Setembro, as influências barrocas nos prédios históricos contrastam com o desenvolvimento urbano. Essa ambientação inspira artistas e pensadores locais. O berbigão faz parte desse painel de histórias.

Além de Orival João, vários escritores mencionaram o alimento em relatos sobre a região. No livro “Nas terras do meu avô”, o historiador Marcos João de Matos lembra da infância. “No litoral palhocense, havia moluscos, berbigão e ostras, além de siri em abundância”, escreve. 

“Na companhia de nossa mãe, eu e meu irmão, aproveitávamos o lindo local junto da natureza para tomar banho, retirar berbigão e caçar siri. As águas cristalinas e o local pacato encantavam os olhos e agradavam o coração”, descreve Marcos.

A presidente da Academia de Letras de Palhoça (ALP), Neusa Bernado Coelho, também viveu os tempos de fartura dos casceiros. “Quando menina, na Praia de Fora, a maré era um convite, pois morava quase na praia”, conta. “Catávamos berbigão porque o mar o oferecia em abundância, e, às vezes, ele se tornava a fartura dos dias modestos. Voltávamos com uma lata cheia dos bichinhos brancos e reluzentes, como pequenas pérolas da areia. Minha mãe fervia tudo em panelas de ferro, no fogão a lenha”, narra.

“Hoje, o mar parece outro. Há menos berbigão, menos gente de enxada e balaio, aliás nem balaio existe mais, como nos meus tempos de menina”, pontua Neusa.

 

Da pobreza à nobreza

Tempos atrás, o berbigão era considerado um alimento associado à “pobreza’’ e rejeitado pela parte mais abastada da sociedade. Isso começou a mudar no fim dos anos 1980. De “comida de pobre’’, ele ganhou o status de iguaria. As informações são do artigo “Trajetórias de uma Reserva Extrativista Marinha: um olhar sociotécnico’’, escrito pela pesquisadora e doutora em agroecossistemas Alana Casagrande, em parceria com Oscar Rover. 

Essa elitização pode ser vista na prática. Quem catava berbigão à beira-mar na Ponte do Imaruim hoje precisa pagar caro para relembrar esse sabor. Em uma peixaria a menos de 500 metros de onde ele era abundante, hoje o preço surpreende: cerca de R$ 36 por 500 gramas do molusco. Em outro estabelecimento, também nas redonzas, o quilo custa R$ 42,50. O preço segue em escalada.

 

Uma esperança

Em 2023, o Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Epagri/Cedap) desenvolveu pesquisa que constatou que a produção de berbigão em cativeiro é viável em Santa Catarina. 

Segundo nota da instituição, o experimento teve sucesso ao produzir larvas do molusco, manter as sementes em crescimento em berçário marinho e realizar a transferência para sistema de produção suspenso flutuante. O estudo foi desenvolvido por João Guzenski. Esse processo ainda não foi implementado em Palhoça, mas vai ao encontro da visão da Secretaria Municipal da Pesca para resgatar esse alimento que já foi símbolo de fartura na região.



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