A Casa da Cultura Açoriana da Enseada de Brito recebe, no dia 18 de outubro, o lançamento do livro-reportagem “Enseada de Brito – Gente e Memória”. Assinada pela jornalista e escritora Cláudia Aragón, com fotografias de Caio Cezar, a obra reúne depoimentos, registros do cotidiano e relatos de trabalho, fé e celebrações que compõem o retrato de uma das comunidades açorianas mais antigas do litoral catarinense.
O projeto surgiu a partir da iniciativa do arquiteto Márcio Carvalho, que propôs transformar em livro o material colhido em sua vivência junto à comunidade, que se transformou em paixão e amizades para uma vida.
“Nos três anos que convivo com a Enseada, contemplei uma experiência comunitária das mais bonitas e orgânicas. Quis que o livro reforçasse essa característica, com histórias de vínculo e afetividade”, diz Márcio.
A narrativa se apoia em vozes locais de diferentes gerações e em imagens produzidas em ambientes domésticos, espaços de culto e frentes de trabalho, com atenção aos ritmos e práticas comunitárias.
Para Cláudia Aragón, a direção é clara: “Este livro mostra o olhar das pessoas que vivem o lugar. Os lugares são feitos de pessoas e suas vivências. E é isso que quis retratar, a vida que pulsa na Enseada de Brito, em cada gesto, tradição e memória”.
No registro visual, Caio Cezar destaca o método adotado nas sessões fotográficas realizadas com os moradores. “Estávamos na casa deles, em seu ambiente, todos com uma carga muito forte de vivência na Enseada. A solução da ‘luz de janela’ foi bastante explorada em função disso”, explica o fotógrafo.
Entre os personagens retratados está o empresário Marcelo Henrique da Silveira, o “Marcelo da Enseada”, coordenador da Comissão Pastoral e importante liderança local. Para ele, o livro cumpre o papel de memória. “Este é o primeiro livro a capturar a essência da nossa comunidade, eternizando a cultura de fé e pesca da região. É um registro que ficará para as próximas gerações”, destaca.
Histórico
A Enseada de Brito, fundada entre 1748 e 1750 e reconhecida como Patrimônio Histórico pelo Iphan no âmbito das Freguesias Luso-Brasileiras da Grande Florianópolis, preserva um traçado urbano com grande terreiro entre a igreja e o mar, característica singular na região.
Originalmente chamada Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, a localidade segue procurando preservar seu conjunto arquitetônico e paisagístico como patrimônio cultural, aliado ao patrimônio imaterial, que é a força de sua gente.
A vida cotidiana que sustenta a Enseada de Brito
A ocupação açoriana do século XVIII ainda se lê no traçado urbano, com ruas estreitas, adros e capela que organizam a vida social. No cotidiano, persistem particularidades de fé e um modo de vida antigo e sustentável. Uma das únicas que ainda produz as massas do Divino à mão, Celestina Pereira da Silveira, a Dona Cici, reza enquanto molda o pão leiloado na festa de julho e para novenas, a pedido de quem faz ou paga promessas. Uma receita centenária. O calendário local continua ancorado nas festas do Divino e celebrações de padroeiros, nas safras da tainha e do camarão, que regulam rotinas e encontros. Na arquitetura ainda são recorrentes as portas altas, janelas de guilhotina e pintura à cal.
A água é captada pela própria comunidade. É ‘puxada’ por canos a partir de uma caixa d’água de pedra. Ela é cristalina e cheia de oxigênio, pois está sempre em movimento - e não é permitido tomar banho na captação.
Saberes práticos, como nós, preparo de iscas, cultivo de quintais e remédios caseiros, circulam entre gerações, sustentando um repertório de técnicas transmitidas pela experiência. Repleta de história, com uma comunidade acolhedora, a Enseada de Brito é uma rara oportunidade de mergulhar no tempo.
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