Texto: Isonyane Iris
Há quem concorde que uma praça é um dos lugares mais representativos de uma cidade. Quase sempre acompanhada de uma igreja ou capela, chega a ser considerada o berço de um lugar. Assim é com a Praça Sete de Setembro, no Centro. Recentemente, o Palavra Palhocense publicou a foto do novo projeto de revitalização do lugar - a revitalização deve ser uma das obras que o prefeito Camilo Martins vai anunciar nesta quinta-feira (23), quando apresenta o programa Acelera Palhoça. Uma imagem que dividiu opiniões e levantou muitas preocupações entre os leitores.
Continuaria a praça com sua referência histórica? As árvores e plantas exóticas no local seriam preservadas? E os ninhos de pássaros que hoje estão no local, o que seria feito deles? As dúvidas eram muitas entre nossos leitores, até mesmo se o valor investido nesse projeto não deveria ser aplicado na saúde, na segurança e na educação.
A maioria dos comentários descreve a obra como “desnecessária”. Os leitores pedem que a Prefeitura invista em outras necessidades do município. “Deveriam cuidar da manutenção das ruas e não arquitetar projetos milionários sem pé nem cabeça. O dinheiro que será gasto aí coloca na saúde e na educação”, aconselha Katia Breis, na página do jornal no Facebook.
Neusa Bernado Coelho defende que o local deveria ser mantido. “A praça é histórica, não pode ser alterada. Concordo que o poder público deveria fazer o resgate da antiga praça, com flores e os ciprestes ornamentando em todos seus canteiros. Pelo que vejo nessa maquete, são possiblidades para atrair mendigos, desocupados e andarilhos, além de desprezar a finalidade da praça, sem audiência pública”, reclama.
Diogo Medeiros Oliveira ainda lembra que no local existem centenas de pássaros que dormem ali todas as noites. “Tem inclusive um casal de corujas brancas que mora ali há mais de 10 anos, sombra, flores, insetos e oxigênio. Responda: quem vai ganhar com essa reforma?”, questiona o leitor.
A equipe de reportagem do Palhocense esteve na Praça Sete de Setembro com a imagem do novo projeto e questionou alguns frequentadores. Francisca Cerqueira, moradora da Ponte do Imaruim, receia que descaracterizem a praça, que ela acredita fazer parte da história da cidade. “Querem fazer uma reforma volumosa e não é apenas cortar a grama. Muitas árvores vão ser retiradas, pra mim não vai ser mais a nossa praça. Entendo que tem que modernizar, mas tem coisa que não se mexe”, teme a dona de casa.
Aposentado, João Alvino Mello conta que pediu sua esposa em casamento na praça e que ali também teria sido o lugar onde por muitos anos ele teria levado seus filhos e hoje os netos para brincar. “Venho aqui e fico sentado no banco só lembrando o passado, quando vejo uma foto dessa confesso que me entristece. Como podem acreditar que isso representará a beleza da nossa praça. É uma pena, mas tenho certeza de que ela nunca mais será a mesma”, lamenta o palhocense.
Sem cuidados
Atualmente, a Praça Sete de Setembro parece estar sem manutenção alguma. Caminhando por ela, é fácil encontrar pisos quebrados, mato alto, falta de corte de grama e poda de árvores. Uma fonte que está completamente abandonada, falta de pintura dos brinquedos e ainda banheiros inutilizados que estão servindo de abrigo para moradores de rua.
“Isso aqui está uma vergonha. Acho que temos outros lugares que merecem investimento, mas é impossível dizer que a praça está ótima. À noite, aqui é um local escuro, depredado e cheio de moradores de rua. Esse projeto novo, pela foto, vai dar uma cara nova pro Centro, transformando isso aqui num amplo espaço para passear e ter momentos de diversão com nossas famílias”, acredita o estudante Luiz Felipe de Lima.
Mãe de uma menina de cinco anos, Fernanda Alves de Oliveira se apaixonou pelo projeto novo e acredita que, com a mudança, a praça se transformará em um local muito mais aconchegante e moderno. “Estou cansada dessa nossa praça velha, já estava na hora de reorganizar as coisas e modernizar essa estrutura. O parquinho aqui é antigo, tudo mal cuidado e sem nenhuma manutenção, confesso que chega a dar vergonha”, reclama a moradora do bairro Madri.
Especialista alerta
Antônio Luiz Soares Junior, arquiteto e urbanista, relembra que a primeira capela de Palhoça está localizada na Praça XV de Novembro, onde funcionava o centro comercial do povoado no início do século XX. Anos depois, próxima ao mercado municipal, a nova sede surgiu, com a Praça Sete de Setembro, acompanhada da Igreja matriz, o que teria formado, em sua opinião, os símbolos do município.
“A reforma de uma praça, principalmente aquela que inicia o povoado local, deve ser feita de forma sutil, com muita responsabilidade e profissionalismo, com repertório e respeitando a história e a cultura do lugar. Sobre o projeto, creio que pecaram na apresentação e graficamente está confuso. Já a composição parece aleatória, sem fundamentação, sem sentido algum, sem um conceito justificado e com paisagismo zero. Parece que a praça precisava de um projeto para ontem e de forma sufocada alguém que gosta de desenhar no computador criou esta apresentação”, avalia o arquiteto.
Como cidadão palhocense, Antônio ainda pede que os responsáveis exijam mais dos profissionais e prestadores de serviços nas obras do município. “Isso para termos resultados melhores e assim receber o apoio da população. Todo projeto, na modalidade público-urbano, independente do seu emprego, é válido e bem-vindo, desde que seja feito de forma responsável”, reforça.
Prefeitura explica
Por outro lado, a Secretaria Municipal de Infraestrutura informa que o projeto de revitalização da Praça Sete de Setembro foi idealizado a partir da necessidade de renovar a área, que há anos não recebe melhorias e que por tradição é um espaço nobre e de identidade do povo de Palhoça, considerando o aspecto histórico. Para tanto, serão priorizadas áreas de estar de uso coletivo para incentivar a convivência e a familiaridade do ambiente.
A pasta esclarece ainda que está prevista apenas a remoção de alguns arbustos considerados exóticos, cuja licença ambiental permite a extração. Serão mantidos os traçados originais dos canteiros existentes, bem como a preservação da vegetação de grande porte, consideradas nativas e sem prejudicar a fauna local.
02/12/2024
02/12/2024