Moradores de Palhoça sentiram os efeitos de um terremoto de magnitude 6.8 que atingiu a Bolívia na manhã de segunda-feira (2). Há relatos no Pagani e na Enseada de Brito. O mesmo ocorreu em outras regiões do país e em outras cidades do estado, como São José e Itajaí.
“Por volta das 10h30, 11h, eu estava em casa, sentado na mesa, lendo, e tive uma sensação de que estava tonto. Olhei para cima e percebi a luminária balançando, achei estranho. De repente, olhei para a chave na porta, e vi que também estava balançando”, conta Rafael Pagani Luz, morador do Pagani. Menos de cinco minutos depois, ele percebeu novamente o fenômeno, desta vez, com menor intensidade.
Como um terremoto com epicentro ao Sul da Bolívia, quase na fronteira com o Paraguai, pode ser sentido tão longe, em Santa Catarina? A questão é que o abalo sísmico aconteceu a uma profundidade de 557 quilômetros, e quanto mais profunda a origem do tremor, maior o raio de propagação. “É importante deixar claro que esse terremoto foi na verdade uma propagação, a origem, o epicentro não é no Brasil. As chances de acontecer um terremoto no Brasil são pequenas, porque a geologia do Brasil é muito antiga. Em áreas muito antigas, essa possibilidade de contato, de mudanças, de choque de placas, de elevações e sub-elevações, é muito pequena. Então temos pouquíssimas chances de termos terremotos que tenham sua efetiva origem no Brasil”, explica Agostinho Schneiders, doutor em Geografia pela UFSC e professor da Unisul.
O professor explica que o interior da crosta terrestre é formado por uma camada de rochas que, quanto mais profundas, menos rígidas e menos duras elas são, facilitando a propagação do tremor. “Tivemos na Bolívia uma ruptura a 500 e poucos quilômetros de profundidade, e como essas rochas não são tão rígidas, porque já estão a altas temperaturas, há a possibilidade de termos essa propagação desse impacto do local de origem para as extremidades. Por isso que foi sentido aqui próximo ao litoral, em uma área praticamente a zero metro do nível do mar, onde a propagação dessas ondas de impacto é sentida”, ensina. Isso dificilmente aconteceria na serra, por exemplo, porque há mais rochas rígidas abaixo da superfície servindo como “barreira”, amenizando o impacto da propagação dessa onda; o que não acontece no litoral, que tem menos obstáculos para “bloquear” o tremor.