Quem nunca ouviu falar em pole dance, aquela dança realizada com a utilização de uma barra vertical? O senso comum acaba vinculando o pole dance às dançarinas que atuam em casas noturnas eróticas, mas esse preconceito está acabando. A sensualidade não é a única experiência que a modalidade pode oferecer. De atividade física a um esporte competitivo, a dança pode ser praticada com inúmeros propósitos. Em Palhoça, quem quiser conhecer mais de perto essa dança pode agendar uma aula experimental com as meninas da Levitate Studio, no Centro.
O pole dance surgiu na Inglaterra, nos anos 1980, e foi popularizada na Europa nos anos 2000. Em Portugal, por exemplo, era oferecida como modalidade de dança desde 2005 pelo prestigiado Círculo de Dança de Lisboa. No Brasil, infelizmente para as praticantes, acabou sendo vinculado às “profissionais do sexo”.
Um preconceito que deve acabar aos poucos, com a popularização da modalidade. “Já está bem melhor, mas o pole tem, ainda, preconceito. Já tive aluna que tinha vindo aqui e não contava para o namorado ou para a família. As pessoas acabam associando com as boates. Na verdade, o pole vem dos circos da Inglaterra, só que veio para as boates e foi crescendo mais. Passou por ali, a gente não pode negar, mas hoje em dia é algo completamente diferente”, avalia Amanda Passos, moradora do Jardim Aquárius que descobriu o pole dance há quatro anos, e há três anos dá aulas na Levitate Studio.
Amanda cursava Educação Física (inclusive, o trabalho de conclusão de curso foi justamente sobre o pole dance, abordando questões como a autoestima e a autoimagem da mulher) na Unisul, na Pedra Branca, e trabalhava em Coqueiros, em Florianópolis, quando identificou que havia muita procura de meninas de Palhoça interessadas em aprender a modalidade. Então, percebeu que havia a possibilidade de abrir um local que oferecesse aulas em Palhoça. Convidou a parceira de estúdio, Amanda Oliveira, e juntas abriram um espaço no Centro, para as mulheres palhocenses conhecerem o pole dance.
Não é uma modalidade fácil de aprender, mas aos poucos, as praticantes vão pegando o jeito. “É uma coisa que vai crescendo aos poucos. Realmente, não é muito fácil de aprender. Exige coordenação, força e flexibilidade. Mas isso ninguém precisa chegar aqui sabendo, a gente vai desenvolvendo isso nas aulas. As meninas chegam aqui não conseguindo fazer nada, mas a cada aula elas vão evoluindo cada vez mais. Isso é nítido, e elas mesmas falam”, diz Amanda Passos.
A instrutora revela que a procura pela modalidade tem aumentado muito, e com diferentes interesses. Há mulheres que procuram porque querem aprender uma dança sensual – que já é, em essência, bem diferente do que é visto nas casas noturnas eróticas. Amanda Passos conta que já receberam meninas que trabalham em boates, mas hoje não tem nenhuma aluna que se identifica como dançarina de casa noturna. “Nunca fui, mas até tenho curiosidade de ir para ver como elas se apresentam no palco, mas pelo que eu soube de meninas que faziam aula comigo, elas me contam que ninguém sabe fazer nada de pole lá, ficam só rebolando, não fazem as acrobacias. Ficam rebolando e tirando a roupa. Isso não é pole dance”, avalia.
Essa é apenas uma das possibilidades de aprendizado do pole dance. Outra possibilidade é utilizar a rotina de exercícios e acrobacias como um exercício físico. Cada vez mais, a modalidade se inscreve como uma alternativa saudável e prazerosa de modelar o corpo. A aula começa com aquecimento, feito com exercícios físicos. Depois, vêm os alongamentos, para aumentar a flexibilidade e a amplitude. Só então começa o trabalho na barra, com o aprendizado das técnicas. E não é fácil se equilibrar em uma barra vertical, exige muita força e concentração – e uma boa dose de coragem. "Elas saem daqui 'mortas'", diverte-se Amanda Passos.
As aulas com foco na dança têm uma rotina; e as aulas “fitness” priorizam o pole acrobático. Com a prática, é possível tonificar os músculos, endurecer perna, bumbum, braço e abdômen. “Não é focado ao emagrecimento, mas ajuda a emagrecer e a definir a musculatura”, garante.
A identificação com o universo dos exercícios físicos é tão intensa que o pole dance se transformou em um esporte competitivo. Tem duas federações catarinenses. A Levitate Studio, por exemplo, está registrada na Federação Catarinense de Pole Dance (Fecapole), de Araranguá, que oferece campeonatos, com categorias distribuídas por idade - o pole dance esportivo é bastante trabalhado também com crianças. Há todo um protocolo de movimentos e uma rigidez com relação às regras: a competidora não pode rebolar, não pode usar roupa com decote, nem deixar o bumbum “aparecendo”. “A maioria das pessoas não conhece este lado esportivo. Até vêm meninas procurando pela parte do esporte, mas ainda tem meninas que vêm apenas pensando em dançar para o namorado, para o marido, e aí elas chegam aqui e encontram um mundo totalmente diferente do que elas imaginam”, diz Amanda Oliveira, que já participou de campeonato. Ela competiu, inclusive, em uma das mais prestigiadas competições do fisiculturismo internacional, o Arnold Classic, que tem uma seção competitiva só de pole dance, e ficou em terceiro lugar. "Consegui tirar uma colocação que eu nem esperava, competindo com atletas de ponta", relembra Amanda Oliveira, que já pratica a modalidade há sete anos.
Em 2019, elas pretendem incentivar suas alunas a participar de competições. Mariane Mafra é uma das alunas que tem tudo para topar o desafio. Ela diz que sempre gostou do esporte, mas não tinha onde praticar até que a Levitate desembarcasse em Palhoça. “O pole dance sempre foi um esporte que me chamou a atenção. Via vídeos, programas de televisão e sempre fiquei fascinada, sempre achei um esporte maravilhoso, sempre procurei fazer, mas pela Palhoça não tinha, só para lugares mais longe, que no caso seria muito contramão pra mim”, relembra. “Quando soube que abriu o Studio na Palhoça fiquei superfeliz e já logo entrei em contato para fazer aula experimental. Fiz e amei, já saí de lá matriculada e já dei inícios às aulas”, acrescenta.
Isso foi há dois anos, e a cada dia, Mariane se apaixona mais pelo esporte. “Eu definitivamente me encontrei no pole. No pole, descobri que não existe tipo físico, nem idade certa para praticar. Qualquer um pode, basta querer. É fascinante ver o que seu corpo é capaz de fazer numa barra. Cada dia, cada aula é uma superação, uma motivação, você se supera e sempre quer mais. O corpo modifica bastante, define, assim como o condicionamento físico também melhora bastante”, comemora a aluna.
Mariane diz que também pratica a dança e adora, mas seu foco é mesmo na parte esportiva. “Minha intenção é participar de campeonato, é minha meta”, diz a praticante, que nos dias de aula sai do trabalho, na Ponte do Imaruim, vai até o estúdio e depois volta para casa, no São Sebastião, cansada, mas realizada. E ansiosa pela próxima aula. Agora, ansiosa também pela primeira competição.